segunda-feira, junho 14

Homem com AGÁ!

- Não, não. Há mais que isso. Viver é avançar, e minha vida recusa-se a fluir pelos canais abertos do homem. Logo, não presto pra nada, e não tenho o direito de enfiar uma mulher na minha vida, já que minha vida não vai dar em coisa nenhuma. É preciso que um homem ofereça à mulher uma vida que tenha sentido. Não posso tornar-me apenas o macho dessa mulher.
- Porque não?
- Porque não posso. Você acabaria me odiando.
- Como se não pudesse confiar em mim!...
O riso escarninho perpassou-lhe pelos lábios
- O dinheiro é seu – disse ele-; a situação social é sua; quem decide é você. Eu, afinal de contas, não passaria do fornicador de madame.
- E o que poderia ser além disso?
Aí está! Alguma coisa invisível! Para mim mesmo, sou alguma coisa. Compreendo o sentido da minha existência, embora admita que ninguém mais a compreenda.
- E essa existência perderia o sentido se vivêssemos juntos?
Mellors calou-se por alguns momentos antes de responder.
- Talvez – disse por fim.
- E qual o sentido da sua existência?
- Já disse que é invisível. Não creio no mundo, nem no dinheiro, nem no progresso, nem no futuro da nossa civilização. Para que a humanidade tenha um futuro é necessário que uma grande mudança se dê.
- E qual seria o verdadeiro futuro?
- Deus sabe! Sinto qualquer coisa em mim, misturada com muita coléra. Mas o que é, exatamente, não sei dizer.
- Quer que lhe diga? Quer que lhe diga o que você tem e os outros homens não têm?
- Fale.
- A coragem dos próprios sentimentos, a coragem da ternura; essa coragem que o faz por a mão no meu traseiro e dizer que tenho uma magnífica bunda!
O risinho perverso desapareceu-lhe do rosto.
É isso mesmo!
Refletiu um instante e disse:
- Sim, tem razão. É isso tudo e também em minhas relações com os homens do Exército. Era preciso manter com eles um contato físico e não recuar. Era necessário tratá-los como seres físicos e dar-lhes um pouco de ternura, ainda que isso para eles fosse a morte. Uma questão de intimidade como disse Buda. Mas o próprio Buda recuou diante dessa ternura física, que é o que mais vale, entre os homens de sadia virilidade. É o que faz os homens verdadeiros, e não simples macacos. Sim, é a ternura, é o interesse pela cona. Sexo não passa de toque, contato, o mais íntimo dos contatos. É desse contato que temos medo. Temos de nos tornar conscientes e vivos.

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