quinta-feira, setembro 16

Suíte de Quelemeu

Vamô dançá tudo nu…tudo nu…
Tudo com dedo no cu, menos eu...
Tudo com a bunda de fora, é agora...
Ocê disse que dava e não deu...
Espora no pé tá tinino, tá tinino...
Pica no cu tá sumino, tá sumino...
Larga teu marido muié, e vem foder mais eu...
Teu marido é bão muié, mas não fode como eu...
A foda é boa é de madrugada é de manhã cedo não vale nada...
A pica tá dura que tá danada ela entra enxuta ela sai moiada...
A muié de compadre Mané Pedro... tem cabelo no cu que faz medo...
Ela chorava, ela gemia, era os cabelos do cu que doía...
Ela chorava, ela gemia, era os cabelos do cu que doía...
Eu pilei mio no pião de sapucaia que bicho que mata homem mora debaixo da saia donde a pica trabaia.

sexta-feira, setembro 10

Sonho Beck-Ttiano Ato Final

W. Allen revira mais uma vez seus bolsos

WA
Achei! Sabia que tinha um isqueiro aqui! (e acende o baseado)

CN
Ele tem fogo!!!! (eufórico)

CN
Ele tem fogo!! (grita mais eufórico tentando chamar a atenção de CV, que continua distante olhando pro lado oposto)

CN vai correndo em direção ao CV,

CN
Ele tem fogo!!!

CV
Quem?? (surpreso)

CN
Ele! (ao virar e apontar pro W. Allen já não há mais ninguém lá!)

CV
Quem?

CN
Não sei!
(pausa)

CV
Cadê meu baseado?

CN
Ele levou!

CV
Quem?

CN
Não sei!

CV
Mas era meu baseado!

CN
Mas era o fogo dele!

CV
É!
(pausa)

CV
O que eu estou fazendo aqui?

CN
Bem, me diga você. O sonho é seu!

CV
Ando tão sem imaginação que até os meus sonhos são Beckettianos. Olha eu aqui, falando comigo mesmo mais novo. Não a nada mais inocente do que achar que passa informação e sensibilidade verdadeiras com esse tipo de diálogo, há 100 anos atrás até acredito q podia fazer algum sentido mas...

CN
(interrompendo CV) Hummm... a voz pura da razão falando, acho que você está acordando.

CV
Estou?

CN
Bem, mesmo se você não estiver eu estou indo embora!

CV
Mas eu não quero acordar?

CN
Como não?? Não há luz nenhuma aqui!!!

CV
Mas é seguro!

CN
(gargalhando) É sim! (irônico) Relaxe. Olhe o lado bom, não é bem Godot q vc está esperando....

Sonho Beck-Ttiano Ato #11

WA
Mas porque eu to falando isso pra vocês? Vocês não são minha terapeuta!

CN
Sua história me lembra algo!

CV
Pra você também?

CN
Pra mim o quê?

CV
A história dele também me faz recordar de algo.

CN
Então deve ser algo que aconteceu conosco há muito tempo atrás, para nós dois termos a mesma recordação.

CV
É verdade!

CN
Mas não lembro?

CV
Vamos, se esforce, você é mais novo! (irritado)

CN
Não lembro!

W. Allen interrompe a conversa, e com um gesto sugere que quer fumar o baseado que está na boca de CV.

WA
Você se importa?

CN
Ah, você fuma!

WA
Não, não fumo. Eu tenho muito medo de câncer ou de algum, enfisema, parada cardíaca, ou qualquer coisa do tipo..Mas vocês não param de falar, e, e... eu não estou no meu sonho, o único câncer que eu posso ganhar seria aqui mesmo, que na verdade seria uma benção....

W. Allen procura alguma coisa no bolso

WA
(perguntando ao CV) Você tem algum fogo?

CN
Hahahahahahahahhaha

CV
Acho que sim, deixa eu procurar aqui! (começa a revirar os bolsos)

CN
Eu acho que não! (rindo)

CV
Se eu não me engano estava neste outro bolso aqui (continuando a revirar os bolsos)

CN
Eu acho que não! (rindo)

WA
Bem, não importa! (e fica com o baseado apagado na boca)
(pausa)
CN vai e cutuca o ombro do W. Allen

CN
Não tem nenhuma luz aqui!

WA
Como assim não há nenhuma luz?

CN
Não há, nós estamos no sonho dele! (aponta pra CV)

CV
(olhando para o infinito) Em pensamento: Cor Negra!

Sonho Beck-Ttiano Ato #10

WA
- Ora, fiquem quietos, eu estava dizendo a minha terapeuta que um dia estava no bar de um hotel, bebendo um whisky, quando de repente não sei de onde, um cara aparece, olha pra mim e diz: Vc me parece infeliz!

CN
- É verdade, vc também!

WA
- Comecei a responder pra ele que o certo não era infeliz, até por que eu não estava infeliz, era melancolia. Mas ele foi amável, me explicou até que melancolia vem do grego: cor negra.. e eu disse que para mim era difícil de sair de uma história minha e entrar no mundo alheio de uma vez...Ainda mais se alguém chega no meio de suas divagações e te indaga de supetão: Você me parece infeliz! Eu teria q ser o que? O poço da felicidade, um integrante do Big Brother pra poder responder q não, você me entende, ele me acertou......Dai eu acho que fiquei um pouco atordoado, que eu não fui eu mesmo quando conversei com ele, fui mais defensivo..eu não sei, me senti um idiota...

CV
- Bem vindo ao clube!

WA
- Daí em seguida fui pro meu quarto e pensei, poxa, o cara é gente boa, atencioso, parecia um cara legal de conversar....e é sempre bom conversar....eu não conseguiria ter aquelas conversas de elevador, nunca consigo, ainda mais naquele momento... preferia morrer....mas eu sei que não teria essa conversa com ele....seria aquelas conversas sobre estrelas, tempo, de quem já enfrentou a certeza da morte.....você sabe, esse tipo de coisa.

CN
- Ele tem certeza da morte também! (apontando pro CV)

WA
- Pensei, poxa, quero conversar com ele novamente: daí comecei a imaginar o que falaria pra ele, até porque não queria parecer um idiota como fui da primeira vez com ele, não que eu tenha sido, você sabe, mas eu me senti........... Pensei então: já sei! Vou chegar pra ele, e dizer: - É bom achar alguém pra conversar sabe?

CV
- Oba mais um!

WA
- E continuaria a falar pra ele: Nós quase nunca conversamos. Não digo eu e você, mas nós, humanos...Um diálogo assim, você sabe..... Aposto que ele iria se identificar com isso e teríamos uma conversa bacana.....
Mas .... Ai está o problema!!!
Eu achei que a conversa poderia ser tão bacana que eu acabei ficando no meu quarto imaginando como seria o diálogo e desenvolvi toda conversa sozinho, escrevi toda ela e coloquei no roteiro do meu próximo filme. Foi delicioso, resolveu meu problema pra uma cena que eu estava há semanas escrevendo, ia me dar bastante dinheiro, eu deveria estar feliz.....Mas agora eu estava enclausurado!!!
Eu não podia mais sair no hall do hotel!!! O que eu faria caso encontra-se ele novamente!!
Ele iria puxar uma conversa, eu sei, e eu iria responder o que: olha Sr, eu adoraria que tivéssemos essa conversa, mas nós já conversamos sobre isso a pouco... ou,ou... eu achei o senhor tão legal que resolvi conversar sozinho...era, era impossível..... eu sei, poderia conversar com ele como se nada tivesse acontecido, mas como eu ira olhar pra ele? Eu me conheço, se eu olhasse nos olhos dele ia lembrar do diálogo e eu ia acabar parecendo um idiota......novamente!!!..... Enfim, ele iria me achar um louco de qualquer maneira.

CN
Uma nau cheio deles!

CV
De terapeutas!

sexta-feira, setembro 3

Sonho Beck-Ttiano Ato #09

CN
- Vamos conversar?

CV
- Vou dormir!

CN
- O que é isso, birra? (irritado)

CV
- Não, é sono!

CN
- Sono, sonhos.....somos?

CV
- Que filólogo! (ironizando CN)

CN
- Que filósofo (ironizando CV)

Ouvem-se barulhos.

CV
- Espere, tem alguém aqui!

CN
- Woody Allen???

W. Allen aparece no sonho.
CV
- O que você está fazendo no meu sonho?

WA
- Não é o meu sonho?

CV
- Não, é meu.

CN
- Não, é dele!

WA
- Não pode ser!

CN
- Não?

CV
- Mas não está sendo?

WA
- Mas eu não estava aqui, eu estava na sala da minha terapeuta, eu ia dizer algo importante a ela....e de repente eu estou aqui...isso não faz nenhum sentido....

CV
- Ihhh...ele quer sentido!

CN
- A terapia é sonho?

CV
- A sua terapia? Ou o meu sonho?

Sonho Beck-Ttiano Ato #08

CV
O que você vai fazer?

CN
Com o que?

CV
Com a vida?

CN
Com a minha ou com a sua?

CV
Não sei!

CN
Também não sei!

CV
Não sabe qual vida?

CN
Não, não sei o que vou fazer!

CV
Somos dois!
(pausa)

CN
Quantos anos você tem?

CV
Vinte oito, e você?

CN
E eu o que?

CV
- Quantos anos você tem?

CN
- Anos?

CV
- É!

CN
- Não sei!

CV
- Não sabe?

CN
- Não! (surpreso)

CV
- Mas você está fazendo o que agora? Colégio, faculdade?

CN
- Também não sei! (ainda surpreso)

CV
- Como não sabe?

CN
- Não sei oras!

CV
- Você não sabe nada?

CN
- Não! (como se descobrisse algo)

CV
- Você não sabe nada a seu próprio respeito e quer ainda que eu acredite que este sonho é seu e não meu?
(pausa)

Sonho Beck-Ttiano Ato #07

CV
A morte!

CN
Monotemático! (com desdém)

CV
O extermínio!

CN
Trágico! (ainda com desdém)

CV
Não, tragédia é uma mistura de alegria e de dor, extermínio é muito maior!

CN
Tragiquérrimo gente!!! Abala!!! (com tom de bichinha e mais irônico ainda)
(pausa)

CN
Eu vou dormir!

CV
Não quer mais conversar?

CN
Estamos conversando?

CV
Estávamos...não???

CN
Bem, você falava.

CV
Mas se somos a mesma pessoa não deixa de ser conversa. Um monólogo pelo menos.

CN
Cara, você pode ter sido eu anteriormente, mas eu estou bem longe de ser como você.

CV
Machão! (com início de ironia)

CN
É sério, não existe possibilidade de eu me tornar a pessoa que você é. Você pode não saber, mas eu já superei todas essas questões que você colocou pra mim!

CV
Vencedor! (mais irônico)

CN
Aliás, tenho quase certeza de que este sonho é meu e não seu! E você está aparecendo aqui para que eu possa evitar me tornar triste como você. Serei sempre alegre, eu sei!

CV
Predestinado! Dono da razão! (todo ofegante e batendo palmas) To toda molhada! To toda molhada!
(pausa)

quinta-feira, setembro 2

Sonho Beck-Ttiano Ato #06

CV
Eu estou sozinho!

CN
Você se isolou!

CV
Eu não tenho amigos!

CN
Você não quer ter amigos!

CV
Foi a vida!

CN
Foi a preguiça!

CV
Foi?

CN
Você esta parecendo aquele professor?

CV
Que professor?

CN
Aquele do colégio!

CV
O Waldenir?

CN
Não, o que dava aula no mesmo colégio que você.

CV
Rui?

CN
Esse!............Ele morreu sabia!

CV
Antes ele do que eu! (com desdém)

CN
Será?

CV
Coitado! Morreu do que? (agora preocupado)

CN
Câncer na laringe! Como diria os malvados, pelo menos morreu de algo que ele gostava!

CV
Eu vou morrer trepando!

CN
Ah vai! (com ironia)

CV
Você sabe como eu vou morrer?

CN
Eu não! Como eu vou saber? Sou mais novo que você, não percebeu! Você já foi mais inteligente!

CV
Pare de se vangloriar!

CN
Hummm...(olhando CV enquanto abre seus olhos para examinar, como se fosse um paciente)...pelo menos continua sagaz!

Sonho Beck-Ttiano Ato #05

CN
Posso te dar um beijo?

CV
Como assim?

CN
Um beijo na boca! Daqueles de cinema!

CV
Mas porque motivo?

CN
Não sei, me deu vontade, posso?

CV
Se é assim, não vejo porque não.

CN se aproxima de CV e o beija com fúria, depois de 3 segundos de beijo os dois acabam percebendo que são a mesma pessoa. De súbito, os dois se afastam assustados.

CV
- Que porra é essa? (muito assustado)

CN
- Não sei! (gargalhando)

CV
- Mas...mas porque não me contou?

CN
Não contei o que? (ainda rindo)

CV
Que somos a mesma pessoa!

CN
Eu também não sabia!

CV
Como não? Está todo gargalhando ai!

CN
Ué, só porque eu não reagi como uma bicha louca como você agora você acha que eu já sabia, é?

CV
Claro! E ainda ficou pregando peças em mim! Filho da puta.....

CN
Pera lá, eu vim aqui conversar com você na maior boa vontade...

CV
Mentiroso!!

CN
Mentiroso?? Mentiroso é você seu bosta! Fica falando pra mim que perdeu a alegria por causa dos outros. Isso não existe! Você perdeu sua alegria de viver porque você não ama ninguém!

CV
O quê???

CN
É isso mesmo. Você não ama ninguém. Vive sua vidinha em sua casa isolado. Você fez até uma criança chorar hoje que eu sei!

CV parte pra cima do CN e começam a brigar, no meio da briga o baseado cai da boca de CV.

CV
Meu baseado!

Enquanto o CV começa a procurar o baseado no chão, CN volta a se sentar. CV acha o baseado, coloca-o na boca novamente e senta-se ao lado de CN.
(pausa)

Sonho Beck-Ttiano Ato #04

CN
- Mas você não irá me responder?

CV
- Responder o que?

CN
- Porque a perdeu afinal de contas?
CV
- O que eu perdi? (preocupado revirando seus bolsos)

CN pega CV pelos braços e o sacode.

CN
- A alegria homem! Porque a perdeu?

CV
- Mas eu já não respondi?

CN
- Não, você me disse o porquê era alegre, mas não por que perdeu a alegria!

CV
- Ah!

CN
- Anda, estou ficando com sono!

CV
- Não sei, eu achava antes que as pessoas que também eram alegres tinham sua alegria baseada na mesma origem que a minha, de ter uma relação pacífica com todos os desejos e angústias humanas. E como a maioria das pessoas que eu conhecia aparentavam ser alegres, pensava: Bom, esse é o mundo em que eu quero viver! Mas aos poucos percebi que não era isso, muitas delas não eram alegres, fingiam estar alegres. Outras ainda eram apenas tontas, sabe. A alegria delas não vinha de uma superação diária de conflitos, elas se fechavam em um mundo estático, por mais complexo que ele fosse, uma hora se tornava estático, e por isso se sentiam felizes. Quando percebi isso acabei me tornando triste, foi assim!
CN
- Triste ou melancólico?

CV
- Não sei, tanto faz!

CN
- Mas nenhuma dessas pessoas alegres que você conheceu era alegre exatamente pelo mesmo motivo que você?

CV
Não, nenhuma que eu me lembre!

CN
Que exagero! (não sabendo se acredita ou não na afirmação de CV)
(pausa)

quarta-feira, setembro 1

Sonho Beck-Ttiano Ato #03

CV
- Eu já dominei a arte da vida sabe?

CN
- Ah sim?

CV
- Foi.

CN
- Já foi brasileiro um dia então?

CV
- Exato! (surpreso) Conhece a poesia também?

CN
- Claro, nosso Xará não?

CV apenas sorri.

CN
- E porque a perdeu?

CV
- O que eu perdi? (começa a procurar algo em seus bolsos)

CN
- A poesia, a arte, a vida...

CV
- Ahh...(parando de procurar) É engraçado....

CN
- Normalmente é!

CV
- Não sei. Eu sabia me portar em qualquer local, tivesse eu entre pessoas mais pobres ou entre os mais ricos. Eu tinha essa áurea que os profetas e santos tem, que faz com que eles consigam se comunicar, num sentido sentimental, com qualquer ser humano entende? Eu era uma argila concisa, firme, mas que nunca endurecia. Eu me moldava à forma, e em qualquer forma que eu estivesse minha força fazia com que eu reconfigurasse o local em que eu estava, eu transformava a forma, eu transformava todos. Pra mim isso era maravilhoso, isso me trazia alegria, e eu nem sabia.

CN
- Engraçado, eu sinto o mesmo em relação a mim. Que bacana, eu nunca tinha parado pra pensar, mas é mais ou menos isso.

CV
- Agora eu sei... assumo... que esta habilidade que eu tinha, que esta comunhão com a vida, com a poesia, com a arte, com os outros seres humanos não vale mais do que uma mágica qualquer de um entortador de colheres.

CN
- (com a alegria de uma criança) Eu adoraria saber entortar colheres!

CV
- Mas é só uma mágica!

CN
- O que não é?

CV
- Mas agora eu sei!! (com convicção)

CN
- Sabe?

CV
- Agora eu sei!! (com mais convicção)

CN
- Então você não sabe!
(pausa)

Sonho Beck-Ttiano Ato #02

CN
- Como você se chama?

CV
- Carlos!

CN
- Que bacana! Você é xará de um grande amigo meu!

CV
- Sério?

CN
-Sim, eu!

CV
- Você o quê?

CN
- Eu!

CV
- Achei que você tinha falado que eu era xará do seu amigo. Não você!

CN
- Não, quis dizer que eu sou o meu grande amigo!

CV
- Ah. Então você também se chama Carlos!

CN
- Elementar meu caro Watson.

CV
-Desculpe, não tinha entendido!

CN
- (com cara de pena) Por quê? Você não é um grande amigo de si mesmo?
(pausa)

Sonho Beck-Ttiano Ato #01

Legenda:
CV = Carlos Velho (28 anos)
CN = Carlos Novo (22 anos)

CV está sentado olhando para o infinito, com um baseado apagado na boca. CN se aproxima de CV, que sente a chegada de outra pessoa mas não muda de expressão. CN indaga com carinho CV
CN
- Eu estava te observando de longe. Vc está infeliz, estou correto?
CV
- (risos sem graça)...Não sei, é que é difícil sabe.. (sente vontade de chorar, mas na verdade não sente, tanto que não chora)

CN não responde, se senta e aguarda CV continuar a falar.
CV
- Não sei se é infeliz....Infelicidade me remete a tristeza... Acho que não é tristeza. Porque se fosse tristeza seria mais fácil de lidar, creio eu...sabe? Tristeza parece mais simples, é só achar a alegria e pronto!..Acho que não sei.....Melancolia talvez?

CN continua quieto e olhando CV nos olhos carinhosamente.

CV
- E é difícil sabe? (levemente irritado, não com CN, mas com a situação) Você chega aqui e me pergunta isso.. Eu tenho me questionado isso há tempos, e você vem aqui e me pergunta isso, como se eu tivesse uma resposta imediata.... Eu não tenho (gaguejando e embaraçado).... sabe... enfim.... com licença. (nervoso e muito embaraçado)

CN faz sinal de que dá licença para CV e continua sentado olhando pra ele. CV não olha em nenhum momento pra CN, se levanta e anda em outra direção, longe de CN.

CV
Em pensamento: Se eu pelo menos pudesse passar imediatamente todos os pensamentos que eu tive nesses últimos 3 anos, acho que ele me entenderia. Mas eu não posso não é mesmo? (pergunta retórica)

CN
(sentado, afastado de CV e olhando para o lado oposto) Em pensamento: Não!

CV se sente mais confiante, como se deixasse a melancolia um pouco de lado e vai sentar junto de CN.

CV
- É bom achar alguém pra conversar sabe? Nós quase nunca conversamos. Não digo eu e você, eu nem te conheço, mas nós, humanos. Não que a gente não fale bastante, mas não é conversa....(como se esperando um sinal de aprovação de CN).. Você me entende não?

CN
- Entendo e concordo! (sorrindo para CV)

CV sorri também e já não se sente mais inibido na situação.

CN
- Sobre o que quer conversar?

CV
- Não sei. Sobre qualquer coisa que engula tudo isso, que engula nós os dois, que engula esse lugar. Que faça tudo isso aqui parecer pequeno.

CN
- Mas isso aqui é pequeno!

CV
- Exato!! Falar sobre a brevidade do tempo, sobre outros mundos imagináveis, sobre o tamanho das estrelas, sobre a certeza da morte! (cara de aflito)

CN
- Sobre a certeza do amor! (cara de contente)
(pausa)